Autor: Frederic Godemel, Executive Vice President, Power Systems and Services, Schneider Electric
A Comissão Europeia anunciou a sua nova proposta política sobre os gases fluorados com efeito de estufa, como o SF6. O que estabelece?
Um recente pacote de Bruxelas inclui uma proposta para afastar a indústria elétrica da utilização de gases fluorados com efeito de estufa, como o hexafluoreto de enxofre (SF6). Assim, reconhece o facto de que, se queremos que a nossa eletricidade se torne verdadeiramente verde, a remoção dos gases fluorados é um passo fundamental que precisa ser dado rapidamente.
Qual é o problema dos gases fluorados, e do SF6 em particular?
Os gases fluorados são gases de efeito de estufa (GEE) artificiais que têm uma grande pegada de carbono, e por isso contribuem para o aquecimento global. São utilizados numa vasta extensão de aplicações industriais, incluindo equipamentos de refrigeração e ar condicionado, aplicações médicas e equipamentos elétricos.
O SF6 é não apenas o gás fluorado mais potente, como também o GEE mais potente de todos, com uma capacidade de aquecimento global (GWP, na sua sigla em inglês) 23.500 vezes superior à do CO2. Há décadas que é utilizado em celas de média tensão (MT), que são equipamentos elétricos incrivelmente comuns e também têm um tempo de vida útil longo, de até 30 anos. O SF6 tem sido o gás a que se recorre mais frequentemente para as celas, porque não é tóxico, é estável e assegura uma solução fiável, de alto desempenho e económica para o isolamento elétrico e a interrupção da corrente.
No entanto, a sua grande desvantagem ambiental não pode continuar a ser ignorada, e é isso que a UE está a reconhecer atualmente.
Mas os gases fluorados como o SF6 não são já regulamentados na Europa?
Sim, até um certo ponto, mas não em todas as aplicações. Algumas regulamentações existentes na Europa e noutras partes do mundo já abordam a monitorização, os relatórios e a recuperação dos gases fluorados. A UE adotou dois atos legislativos para reduzir os gases fluorados: a F-Gas Regulation, uma redução progressiva dos hidrofluorocarbonetos (HFC) em toda a UE que visa diminuir as emissões de gases fluorados e mitigar o aquecimento global, e a MAC Directive, um regulamento específico para automóveis de passageiros.
O SF6, em particular, já foi banido na UE segundo a F-Gas Regulation, exceto nas indústrias onde havia poucas alternativas adequadas disponíveis, especialmente a elétrica.
O que mudou e torna possível eliminar o SF6 em equipamentos elétricos?
Já não existe uma barreira tecnológica à eliminação do SF6 nas instalações elétricas de MT. Também não há necessidade de utilizar outros gases fluorados para o substituir, pois podem implicar riscos desconhecidos ou estar sujeitos a outra legislação no futuro.
Estou orgulhoso por a Schneider Electric deixado para trás os gases fluorados. Inovámos com tecnologia de substituição que já está disponível e comprovada – em vez de utilizar o SF6 ou um gás fluorado alternativo, estamos a recorrer ao ar puro e à tecnologia de corte em vácuo para o isolamento e a interrupção. As celas MT livres de SF6 são uma escolha melhor, não só para o meio ambiente, mas também para a segurança operacional, que é sempre a nossa primeira prioridade e onde nunca estamos dispostos a fazer concessões. Depois disto, também vemos grandes melhorias na facilidade de manutenção, no tratamento de fim de vida e na funcionalidade e desempenho – já para não falar das futuras políticas de compliance.
A minha empresa passou uma década a testar e a aperfeiçoar este novo equipamento livre de SF6 antes de o disponibilizar aos clientes, entre os quais a E.ON, a EEC Engie e a Green Alp, há mais de dois anos.
Como é que a política da UE vai afetar quem utiliza celas MT?
A meu ver, a proposta política da UE trará grandes benefícios para as partes interessadas, com um mínimo de inconvenientes.
Isto porque as celas de MT livres de SF6 como as nossas, que utilizam ar puro em vez dele, têm as mesmas características positivas das celas tradicionais, como um alto desempenho e dimensões compactas. Também importante para os utilizadores é o menor custo total de propriedade, graças a uma vida útil do equipamento muito mais longa.
Vamos observar alguns setores específicos que vão ser afetados:
- Edifícios: Os edifícios – tanto comerciais como industriais – estão sujeitos a rigorosos padrões de sustentabilidade. A utilização de celas livres de SF6 é uma oportunidade para atingir essas metas e receber distinções como a certificação LEED. Para além disso, os edifícios já estão a mudar de BT para MT para suportar o carregamento rápido de veículos elétricos, pelo que podem eliminar o SF6 desde o início.
- Mobilidade Elétrica (eMobility): Ao comprar um veículo elétrico (VE), os condutores já estão a fazer uma escolha de transporte sustentável. As celas MT livres de SF6 oferecem suporte a uma experiência de carregamento de VE ainda mais ecológica no ponto de carregamento. Utilizar celas sustentáveis também prepara as estações de carregamento de VE para possíveis requisitos padrão de sustentabilidade.
- Redes: Estamos a descarbonizar toda a cadeia de valor da eletricidade, não apenas a geração, mudando para uma rede que também é descarbonizada. Quando estamos a integrar REDs, faz todo o sentido utilizar também celas sustentáveis, especialmente com tecnologia idealizada especificamente para as redes do futuro, que têm muito mais energias renováveis e operações de comutação mais frequentes.
- Data Centers: Os Data Centers são um dos tipos de edifícios que mais consome energia. As novas inovações tecnológicas, como as celas livres de SF6, podem ajudá-los a reduzir a sua pegada de GEE.
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