Em 2017, a arquiteta norte-americana Grace Kim subiu ao palco do TED, um dos mais conhecidos eventos de tecnologia, educação e design do mundo, para falar sobre como a Arquitetura pode influenciar profundamente a saúde mental das pessoas. Segundo ela, por mais que um típico subúrbio americano pareça confortável, por exemplo, pode inspirar solidão, pois o projeto urbano desses bairros não favorece interações sociais.
A relação entre a concepção dos ambientes e a mente humana é justamente o que a Neuroarquitetura estuda. Aliando conhecimentos arquitetônicos, urbanísticos, neurocientíficos e psicológicos, esse campo pode transformar a forma como você cria seus projetos. E é sobre isso que vamos falar no post de hoje. Confira!
O que exatamente é a Neuroarquitetura?
Como você deve saber, a Arquitetura muitas vezes desempenha um papel decisivo em como as pessoas se sentem. Quando você faz um projeto para uma residência, por exemplo, é comum que os clientes digam que desejam um ambiente para se sentirem mais confortáveis ou serenos, certo?
Essa influência não é nada nova. Jonas Salk, por exemplo, criador da primeira vacina contra Poliomielite na década de 50, atribui sua inspiração à arquitetura da Basílica de São Francisco de Assis, construída em Roma no século 13, local onde se refugiava para refletir.
A Neuroarquitetura se debruça sobre esse tipo de fenômeno para tentar explicar que elementos arquitetônicos podem favorecer o bem-estar de quem frequenta uma obra, seja ela uma casa, um escritório ou um prédio público. Esse campo de estudo reúne arquitetos, neurocientistas e profissionais de outras áreas para entender como nosso cérebro reage à Arquitetura e como nos torna mais felizes com a ajuda dela.
Qual o impacto da Arquitetura sobre o bem-estar?
A Neuroarquitetura traz diversos exemplos sobre como elementos arquitetônicos interferem nos sentimentos das pessoas.
Um caso muito citado é o do complexo residencial Pruitt-Igoe, inaugurado em 1995 no estado de Missouri, nos Estados Unidos. Reunindo 33 prédios, esse grande empreendimento acabou sendo demolido na década de 70, após ser acusado várias vezes de aumentar a criminalidade na área. A culpa recaiu sobre os grandes espaços vazios entre as torres da construção, que desestimulavam o senso de comunidade entre os moradores.
Mas não é apenas em projetos urbanísticos que a Neurociência se relaciona com a Arquitetura, viu? A relação também existe em ambientes corporativos. Afinal, como grande parte das pessoas passa cerca de 8 horas por dia no trabalho, o ambiente a seu redor afeta diretamente a produtividade.
O conceito de escritório aberto (open office), por exemplo, que se tornou moda nas últimas décadas, foi colocado em cheque por algumas pesquisas que tentam mapear se de fato um ambiente com menos paredes estimula os colegas a interagirem.
Como aplicar a Neuroarquitetura a seus projetos?
Por mais que não exista uma receita pronta para a aplicação dos conceitos da Neuroarquitetura em seus projetos, você pode atentar para alguns detalhes pensando em otimizar o bem-estar dos usuários nas suas diferentes obras. Além de, evidentemente, sempre se atualizar sobre as novidades. Veja algumas dicas para incorporar as observações da área nos seus próximos trabalhos!
Em projetos corporativos
Como já ressaltamos, o conceito de escritório aberto tem sido rediscutido por pesquisadores. O modelo ideal de ambiente de trabalho definitivamente não é um consenso e certamente não existe uma solução única para todos os tipos de segmentos e empresas. É possível destacar, porém, alguns elementos de Arquitetura e decoração que favorecem a produtividade e o equilíbrio no espaço corporativo.
O cuidado com os ruídos, por exemplo, é um ponto importante para ficar de olho. Aliás, um dos principais pontos contra os open offices está justamente aí, uma vez que a falta de paredes ajuda o barulho a se difundir. Conceber um bom projeto acústico é, portanto, essencial.
A iluminação também é fator importante. É preciso lembrar que a iluminação artificial faz as pessoas perderem a noção do tempo. Assim, um escritório às 17h tem uma luz igual à das 7h se for iluminado somente por lâmpadas. Isso pode aumentar a sensação de cansaço e, inclusive, favorecer a insônia. Por isso, o ideal é que os escritórios recebam luz natural.
Outra estratégia interessante é acrescentar vegetação ao espaço corporativo. A presença de plantas é associada à conexão com a natureza, o que, além de ajudar a elevar qualidade do ar dentro do escritório, traz mais calma para os usuários.
A escolha das cores também pode interferir na produtividade. Algumas empresas preferem tons vibrantes para estimular os funcionários, mas a verdade é que cores muito intensas podem causar o efeito contrário, aumentando a distração. Em alguns casos, portanto, é melhor manter a tradição e apostar em tons neutros.
Por fim, mais um detalhe curioso: estudos apontam que um pé-direito mais alto favorece a criatividade, o que é especialmente útil para profissionais que precisam criar todos os dias.
Em projetos residenciais
O primeiro passo para a elaboração de um bom projeto residencial está em entender bem o perfil do cliente — observação que já fizemos em nosso post sobre projetos exclusivos de Arquitetura de interiores.
Por mais que os conceitos da Neuroarquitetura tenham sido muito aplicados em escritórios, hospitais e escolas, eles também podem inspirar a concepção de residências com algumas dicas básicas, que servem tanto para projetos de alto padrão quanto para os mais simples.
Da mesma forma como em ambientes de trabalho, a luz é uma das principais preocupações aqui. Prefira a luz natural e evite a azulada nos ambientes de descanso. Muitas pessoas gostam de TV no quarto, por exemplo, mas essa pode não ser uma boa escolha, pois o tipo de iluminação artificial que esse equipamento emite pode comprometer o sono. Sugira reservar TV e computadores a outros espaços.
A dica sobre decorar com plantas também vale para residências. Nesse caso, sua liberdade é maior ainda, já que é possível investir em jardins completos ou paredes verdes.
Também é interessante atentar para o formato dos móveis. Nesse sentido, saiba: nosso cérebro tende a apreciar formas arredondadas, que são associadas à beleza. Além disso, estudos sugerem que quinas agudas lembram perigo.
Como você pode ver, não há uma fórmula determinada para aplicar a Neuroarquitetura. De toda maneira, a atenção a alguns aspectos é sim capaz de transformar a experiência de quem frequenta um espaço ou vive nele.
Você já observou na prática como projetos arquitetônicos influenciam o humor das pessoas? Conte nos comentários o que notou!
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