Este artigo foi originalmente publicado no blogue global da Schneider Electric por Gwenaelle Avice-Huet
Estamos na primavera de 1996 – o mundo está a fervilhar de entusiasmo o Campeonato Europeu e os Jogos Olímpicos iminentes, as jardineiras estão no auge da moda e as Spice Girls estão prestes a tornar-se um nome conhecido em todo o mundo. O filme “Twister” – um retrato da devastação provocada pelas alterações climáticas – acaba de chegar às salas de cinema, com os famosos atores Helen Hunt e Bill Paxton como “caçadores de tempestades” que seguem um tornado cataclísmico.
Fazer de um desastre climático um vilão era certamente vanguardista para aqueles tempos, tal como os efeitos especiais, que arrancavam árvores do chão e faziam voar casas (e vacas)! Contudo, apesar das imprecisões e dos clichés dos filmes de catástrofes, a premissa ecológica de Twister ainda hoje ecoa – de tal forma que a sua sequela, “Twisters” (ou “Tornados”) chegou este mês de julho ao grande ecrã. Este é um dos mais longos intervalos entre um filme original e a sua sequela na história de Hollywood.
Naturalmente, a sequela conta com as alterações climáticas no enredo. Tal como explicou o argumentista Mark Smith: “Devido às alterações climáticas, o que costumava ser um beco de tornados que atravessava uma determinada zona estende-se agora muito mais para leste e está a deslocar-se para o outro lado, as datas são mais largas, os números são mais elevados e as tempestades são mais violentas. Por isso, utilizámos elementos desse tipo para iluminar também as causas e os efeitos das alterações climáticas.”
O filme tem as características de um ‘blockbuster’ de verão, com efeitos especiais alucinantes e um ritmo de montanha-russa. Porém, estas emoções envolvem uma mensagem importante sobre as alterações climáticas e como podem devastar o nosso planeta – uma mensagem profunda para todos os que se preocupam com a sustentabilidade e o net zero.
Sobram-nos notícias sobre o agravamento da crise climática, mas as estatísticas e os factos têm os seus limites. Filmes como este, que criam uma experiência imersiva e intensa, relatam as consequências da inação climática ao público em geral. Afinal de contas, como diz a regra de ouro da escrita: “show, don’t tell” (‘não digas, mostra’); por isso esperamos que esta tendência se mantenha. Desde “The Day After Tomorrow” a “The End We Start From”, vemos cada vez mais narrativas sobre o clima passarem das publicações académicas para os guiões de Hollywood.
Conectar os ecrãs de cinema à realidade
Embora o público adore o drama que salvar o planeta envolve, o conceito de “sustentabilidade” vai para além da sobrevivência – pretende criar um mundo melhor, mais saudável e mais equitativo para todos.
Nos filmes de catástrofes, a grande resposta é, muitas vezes, uma solução científica ainda nova e por testar. Pensemos em Virgil, que perfurou a Terra até chegar ao centro no filme “The Core”, ou em Icarus II, encarregado de reacender o sol em “Sunshine”. Porém, na vida real, as tecnologias necessárias para evitar a catástrofe climática já existem – e são comprovadas, escaláveis e estão a amadurecer rapidamente.
Para progredir para um futuro mais sustentável, as empresas devem agora implementá-las em grande escala e em uníssono. A eletrificação, por exemplo, tem o potencial de transformar o setor da indústria – com a transição para veículos elétricos, bombas de calor e processos industriais eletrificados como pontos muito importantes no caminho para o net zero.
As empresas devem também empenhar-se em integrar princípios sustentáveis nas suas estratégias de crescimento. Não se trata apenas de evitar perdas financeiras; está provado que fazer isto alimenta o crescimento e a rentabilidade, promove a inovação e prepara as empresas para o futuro. Há, de facto, uma vasta investigação da McKinsey que sublinha este facto.
Ao integrar mais energias renováveis e digitalização, abre-se um caminho claro para a descarbonização. A sinergia da eletrificação e da digitalização pode reduzir as emissões em até 70%, o que contribuirá muito para que as mega-catástrofes fiquem apenas nos ecrãs de cinema.
Política vs alterações climáticas
Conseguir ter um impacto real requer um esforço político unificado em todo o mundo. Há uma cena clássica de Hollywood em que os países, quando confrontados com uma ameaça global, deixam de lado as suas diferenças e cooperam em prol da sobrevivência da Terra. É precisamente isso que precisa de acontecer agora. Felizmente, este ano apresenta-nos uma oportunidade única de mudança, com eleições nacionais previstas em 64 países e na UE, totalizando quase metade da população mundial. Os resultados destas eleições vão definir o caminho dos próximos anos.
É encorajador constatar que as sondagens na UE revelam apoio generalizado da população à ação climática, estando a sustentabilidade no topo da lista das preocupações dos eleitores. Se Hollywood continuar a sensibilizar o público para estas questões e a política amplificar a voz das pessoas, talvez possamos assistir a um aumento das iniciativas a favor do clima.
Uma crise que não vai passar
A Europa tem a oportunidade de enfrentar a esta crise energética de forma decisiva e coletiva, abrindo caminho para uma viagem mais harmoniosa em direção ao net zero. Este não é um desafio para um futuro distante; requer atenção urgente. Ao contrário dos 28 anos de espera pela sequela do filme “Twister”, a ação sobre a crise climática não pode ser adiada.
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