Há pelo menos uma década que as empresas do setor da produção industrial discutem como a tendência da transformação digital vai afetar a sua evolução; mas a verdade é que muito poucas iniciativas de digitalização foram concretizadas. De facto, a maioria fracassa. De acordo com a Harvard Business Review, em média, 87.5% dos projetos de transformação digital nunca atingem os seus objetivos.
No entanto, apesar destes contratempos iniciais, as organizações reconhecem que não podem ignorar as tendências de digitalização e permanecer competitivas. Vários desafios importantes transformaram a indústria de bens de consumo embalados (CPG, na sua sigla em inglês) e forçaram mudanças nos processos industriais e na forma como os humanos interagem com as máquinas. Estes incluem:
Escassez de mão de obra e desafios de retenção de talento
Mesmo com a proliferação generalizada de robôs, a maioria das instalações de CPG encontra-se com falta de colaboradores, e enfrenta uma intensa concorrência para contratar a partir de um conjunto limitado de profissionais qualificados;
Instabilidade da cadeia de fornecimento
Os eventos globais recentes, como a pandemia e a guerra na Ucrânia, perturbaram as cadeias de abastecimento e criaram novas exigências e desafios que exigem uma reinvenção dos processos;
Perda de conhecimentos institucionais
À medida que mais colaboradores atingem a idade da reforma, partem das empresas com conhecimentos que não transmitiram sobre como otimizar os processos da linha de produção;
Ênfase na sustentabilidade operacional
Os acionistas, financiadores, clientes e reguladores exigem agora reduções agressivas no consumo de energia e nas emissões de CO2.
Como os colaboradores conectados impulsionam o valor da transformação digital
Para superar estas barreiras, os executivos e gestores das fábricas do setor CPG devem reconsiderar a natureza do trabalho nas suas instalações e focar-se em como a transformação digital pode enriquecer os colaboradores. Embora as fábricas do futuro contem com mais automação, a variabilidade inerente ao processo de produção de alimentos, bebidas, produtos de higiene pessoal, etc., vai continuar a exigir a intervenção e a orientação de uma força laboral instruída e capacitada na linha da frente.
Para além disso, o desejo de agilidade e resiliência no ambiente pós-pandemia tem de reconhecer que estes colaboradores da linha da frente são o alicerce das novas capacidades. Quando não se compreende esta perspetiva, as organizações ficam aquém dos seus objetivos de produtividade conseguida pela transformação digital, porque se focaram demasiado nas mudanças tecnológicas, e não o suficiente na cultura de trabalho. Em vez de introduzir rapidamente novas tecnologias, um projeto de transformação digital eficaz implica alterar as funções tradicionais dos colaboradores de forma a permitir-lhes tomar decisões de negócios informadas.
As fábricas de nova geração funcionam com base em conhecimento, e este vem dos dados
Um segredo para o sucesso é permitir que os operadores olhem mais além de apenas um aspeto restrito da sua máquina e obtenham uma compreensão mais abrangente de todos os processos que afetam o desempenho geral da fábrica. A transformação digital deve permitir que os colaboradores deixem de estar limitados a executar atividades rotineiras e passem a assumir funções de mais valor acrescentado, em que atuam como gestores de negócios orientados por informação.
Por exemplo, as ferramentas digitais podem permitir que os colaboradores tomem decisões sobre a qualidade dos produtos, analisando dados para validar se estes estão prontos para a etapa seguinte. Podem permitir-lhes visualizar a quantidade de energia ou água que está a ser consumida à medida que os produtos são processados e dar-lhes a capacidade de determinar o momento ideal para realizar a manutenção das máquinas. Quando corretamente implementada, a transformação digital injeta mais valor nas atividades dos colaboradores, permitindo-lhes ter uma influência mais significativa nos resultados da produção e na redução dos custos operacionais.
À medida que mais tecnologia digital é introduzida nas fábricas, os colaboradores vão tornar-se gradualmente mais familiarizados com os dados. Os dados a que acedem e que manipulam são utilizados horizontalmente em toda a fábrica, afetando a logística, o armazenamento, a pré-produção e a produção, a embalagem e a entrega do produto. Os dados transformam a empresa, tornando-a menos hierarquizada, com menos silos e mais colaborativa.
A implementação da transformação digital centrada nas pessoas não é uma abordagem uniformizada – a natureza do setor, a cultura das empresas e a sua região geográfica de operação fazem uma grande diferença na forma como as tecnologias digitais devem ser aplicadas. Os elementos comuns, no entanto, envolvem a formação de colaboradores menos qualificados para se tornarem “solucionadores de problemas” e a utilização de dados de dashboards para ajudar esses mesmos colaboradores a interpretar o que está a acontecer dentro das suas máquinas.
Esta nova geração da força de trabalho é agora composta por colaboradores conectados, que utilizam dispositivos inteligentes como tablets ou interfaces homem-máquina (HMI, na sua sigla em inglês) para aceder a dados que afetam o seu fluxo de trabalho e a tomada de decisões quotidianos. As ferramentas digitais são essenciais, mas não tanto quanto a forma como a fábrica está organizada. A liderança deve tornar possível uma cultura que adote formas diferentes de contratar e reter pessoas, bem como de enriquecer as funções dos colaboradores para manter níveis elevados de interesse e motivação.
Os benefícios da transformação digital para os recursos humanos
Uma transformação digital eficaz também fornece ferramentas valiosas para a recolha das melhores práticas ao longo de todo o ciclo de vida das operações da fábrica. Realizar intervalos regulares de formação e a recolha de conhecimentos em comum minimizam os riscos de transição para os recursos humanos. Para além disso, mantêm uma base consistente de conhecimento quando colaboradores se reformam ou mudam de emprego.
As ferramentas que geram estes benefícios para os recursos humanos incluem:
- Ferramentas de formação: a cultura de formação da nova geração consiste numa gestão do conhecimento mais abrangente e na aplicação de abordagens de realidade virtual e aumentada. Para os novos engenheiros que entram no mercado de trabalho, por exemplo, a formação pode ser realizada utilizando ferramentas que utilizem uma “simulação de gémeo digital” para ilustrar o impacto das decisões em réplicas exatas de situações reais da fábrica, mas sem afetar o desempenho dos sistemas de produção reais;
- Ferramentas de colaboração: estas ferramentas permitem aos colaboradores trabalhar em conjunto em tempo real para partilhar eventos importantes relacionados com a produção, resolver problemas e recolher ideias. Os tablets são utilizados para aceder a vídeos de instruções, guias de formação, instruções de trabalho e outros conhecimentos digitais necessários para resolver problemas e recolher as melhores práticas nas atividades quotidianas;
- Ferramentas de melhoria contínua: à medida que os operadores supervisionam as suas máquinas, os tablets portáteis apresentam dashboards que destacam o estado e as instâncias do fluxo de trabalho. As ferramentas integradas de relatório e monitorização das tarefas permitem aos operadores realizar análises de desempenho, associar fluxos de trabalho a eventos e receber alertas proativos sobre exceções e KPIs.
- Ferramentas de realidade aumentada: uma nova classe de aplicações digitais permite que os colaboradores e estagiários da fábrica tirem partido da realidade aumentada (AR) em tablets portáteis. A solução AVEVA XR, por exemplo, combina AR, realidade virtual (VR) e realidade mista (MR) para ajudar os colaboradores a tomar decisões melhores e mais rápidas, digitalizando a execução do trabalho e assim garantindo as melhores práticas, preparando-os para operações seguras e eficazes, e melhorando a eficácia da execução do trabalho com uma solução de mobilidade avançada com tecnologias AR e 3D.
O timing é fundamental para a implementação de novas tecnologias
O desafio para os fabricantes do setor CPG é garantir que as novas tecnologias digitais são introduzidas e disponibilizadas no momento certo, em pequenos passos. Trabalhar com um parceiro experiente como a Schneider Electric ajudará a padronizar a aplicação de elementos digitais nas operações da fábrica, de modo a que a agilidade operacional possa ser reforçada para se atingirem os objetivos de produção. Para saber mais, descarregue o nosso novo guia eletrónico de transformação digital.
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