Em dezembro passado, participei de uma maratona em Lima, no Peru. Fui panelista e ouvinte de diversos paineis da COP-20 e tive a oportunidade de ouvir e trocar experiência com organizações privadas, ONGs e com diversas instâncias dos Governos de diferentes países. Entre um encontro e outro, peguei a estrada para conhecer um povoado, a 2 horas da capital, que até então vivia à luz de velas. Enquanto nós nos preocupamos em carregar o celular para obter os benefícios dos aplicativos que controlam e facilitam a nossa vida, aqueles chefes de família, aqueles jovens, nossos vizinhos, gastam a maior parte da sua renda em vela na tentativa de não viver igual aos nossos ancestrais, na mais profunda escuridão.
Saí de lá convicta de que estamos à beira de uma nova ruptura, que pode ser ter impactos tão profundos quanto a era do gelo ou a revolução industrial. Na Cidade da Luz, a questão energética precisa assumir um papel de destaque na COP21, já que é um tema crucial para o alinhamento entre crescimento econômico e mitigação dos efeitos das mudanças do clima. O dilema ganha cada vez mais eco.
O presidente Barack Obama, em seu discurso na cúpula das Américas no Panamá, mês passado, afirmou que seu país está engajado em parceria com outros países para a produção de energia limpa e mais barata. Mas será essa a única alternativa?
No mesmo evento, o presidente Juan Manuel Santos, da Colômbia, reafirmou a intenção brasileira de formar um bloco que dê voz aos países latino americanos. Será mesmo a questão climática um problema exclusivo dos grandes emissores?
Para quem ainda não entendeu a importância dessa discussão, tome como exemplo o que acontece em São Paulo. A cidade, que vem sofrendo consequências bastante tangíveis das mudanças climáticas, aprendeu a olhar para o céu e fechar as torneiras. O prosaico “Será que vai chover?” tornou-se “Será que está chovendo nos reservatórios?”
O Brasil, que sofre com o aumento do custo da energia, em parte provocado pelo acionamento das temíveis e poluentes térmicas, também precisa olhar para sua economia de forma sistêmica e incluir as questões sociais e climáticas junto da agenda econômica. Aliás, essa foi outra recomendação saída do Panamá, dessa vez, trazida pelo Fórum de Jovens da Américas.
Saí de Lima convicta de que o nosso continente pode contribuir muito e ganhar um papel de destaque nesse cenário. Um estudo realizado pela ABESCO com o nosso apoio aponta para um potencial total de eficiência energética no Brasil de 46 GW, uma economia potencial de 11 bilhões de reais, se houvesse uma redução de 10% do consumo atual, somando todos os setores (residencial, industrial, comercial), seria o equivalente à produção energética anual de uma Usina de Belo Monte. Na Schneider Electric, estamos cada vez mais atentos a esses números e nossa posição é chamar a atenção para isso. Antes de discutir a produção, que certamente será necessária, vamos discutir a eficiência do uso e com isso, ganhar mais tempo para planejar esses investimentos, quem sabe, usando novas tecnologias que surgem a cada ano. De acordo com a Agência Internacional de Energia –IEA – 40% das emissões poderiam ser evitadas com medidas de eficiência energética.
O que se espera de Paris é uma inédita convergência dos pilares da sustentabilidade, de verdade que seja um acordo pautado em mudanças sociais, questões econômicas e climáticas com o mesmo impacto. Espera-se que os países tenham contribuições distintas na preservação da biodiversidade e sequestro de carbono, bem como na redução imediata do nível de emissões atuais. Por esse ângulo, o acordo de Paris também nos dá a esperança de ter uma agenda inclusiva do ponto de vista de igualdade de gênero. O tema, tratado timidamente em salas menores, desde a ECO92, vem ganhando força, à medida que a participação das mulheres na economia e na sociedade também se fortaleceu nas duas últimas décadas. De acordo com relatório divulgado em abril/2015 pela ONU, a atuação profissional da mulher na América Latina aumentou de 40% para 54% entre 1990 e 2013. Com relação à ECO92, hoje é mais aceito o fato de que os países em desenvolvimento e os países mais pobres do globo, também tem uma participação determinante de mulheres e que a integração de suas questões na agenda de mudanças climáticas é essencial para a execução do acordo desde os níveis comunitários, como na liderança de grandes corporações e governos.
Um exemplo: Em 2012, quando nos preparávamos para a Rio+20 decidimos apresentar um projeto de energia sustentável para comunidades amazônicas. Devido aos desafios de distância, tivemos que treinar as pessoas que executariam a instalação da rede elétrica na própria comunidade, e, em meio a uma turma de dezenove homens, uma mulher: a professora da reserva. Sempre engajada com os temas de sua comunidade, a mãe de cinco filhos aos trinta anos, não se intimidou e, ao contrário dos homens treinados queria saber sobre a tecnologia e sua manutenção para ensinar aos seus alunos como conservar o sistema solar que receberam naquela ocasião, por mais tempo. Como resultado, três anos depois a tecnologia sobrevive graças a um sistema de gestão comunitária, que não tínhamos visto em mais de trinta países onde mantemos projetos dessa natureza. O que eu tiro dessa experiência é que as mulheres poderiam ter uma contribuição ainda mais relevante para a questão climática, se não estivessem ainda preocupadas em sobreviver, seja combatedo a violência doméstica ou diminuindo as desigualdades com relação aos homens no mercado de trabalho, enfim, se deixassem der ser minoria.
Se sairmos com essas respostas da COP21, a única pergunta que fica é: Será que vai chover em Paris de 30 de novembro a 11 de dezembro? Será o país afetado pelas mudanças climáticas em pleno inverno seco e rigoroso? Ou será que choverão esperanças de um acordo legítimo e legalmente vinculante? É dessa chuva que nosso planeta precisa para voltar a florescer!
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