Como desmistificar as emissões de Alcance 3 dos Data Centers

De acordo com um estudo da Carbon Intelligence, mais de 80% das emissões de uma empresa são de Alcance 3. No entanto, no caso dos Data Centers, este ponto é mais difícil de avaliar – o que se deve parcialmente ao facto de consumirem muita energia, que por sua vez é, em grande parte, de Alcance 2. Se esta energia tiver uma elevada intensidade de carbono, então as emissões Alcance 3 contribuirão com uma percentagem menor da pegada de carbono no total do Data Center, e vice-versa. No entanto, as emissões de Alcance 2 são mais fáceis de determinar do que as emissões de Alcance 3, o que torna o cálculo da pegada de carbono total ao longo da vida útil do Data Center um pouco subjetivo.

Embora reportar as emissões de Alcance 3 ainda não seja um requisito obrigatório, é provável que o venha a ser a curto-médio prazo. Assim, é importante que os operadores de Data Centers compreendam os principais elementos que geram este tipo de emissões.

Como disse Peter Drucker (guru de gestão): ” O que pode ser medido, pode ser melhorado ” – por outras palavras, não se pode corrigir o que não se pode medir. Compreender as emissões de Alcance 3 é um passo fundamental para os operadores de Data Centers darem prioridade aos esforços de redução de carbono e atingirem os seus objetivos de sustentabilidade ambiental. O Alcance 3 é o próximo desafio no que respeita a indicadores-chave de desempenho para o setor dos Data Centers.

Portrait of African American woman working as IT engineer and standing among server racks in data center room

As emissões de Alcance 3 são, sem dúvida, as mais difíceis de reportar

O Alcance 3 inclui todas as emissões indiretas de fontes como a compra de bens e serviços (por exemplo, a construção de Data Centers); bens de capital (por exemplo, computadores, sistemas de energia ou sistemas de refrigeração); viagens de negócios (voos, comboios, aluguer de carros, hotéis, etc.); deslocações de colaboradores (carros, autocarros, etc.); e gestão de resíduos (resíduos eletrónicos, baterias) em toda a cadeia de valor de uma organização de Data Centers.

Quantificar e reportar as emissões de Alcance 3 representa um grande desafio para os operadores de Data Centers, principalmente devido à falta de três recursos:

  • Dados fiáveis dos fornecedores
  • Ferramentas quantitativas
  • Uma metodologia de quantificação e elaboração de relatórios.

Após meses de investigação, publicámos o White Paper #53, “Recommended Inventory for Data Center Alcance 3 GHG Emissions Reporting”. Este inventário inclui nove categorias de fontes de emissão e as suas subcategorias específicas de Data Centers como uma estrutura para os operadores destes contabilizarem e comunicarem as suas emissões de Alcance 3. Após este passo, começámos a investigar e a recolher dados para desenvolver ferramentas.

A primeira tentativa global de quantificar o Alcance 3 dos Data Centers

Robert Bunger, Victor Avelar e Paul Lin, da Schneider Electric, elaboraram o novo White Paper #99, “Quantifying Data Center Alcance 3 GHG Emissions to Prioritize Reduction Efforts”. Neste documento, utiliza-se um hipotético Data Center para demonstrar como quantificar as emissões de Alcance 3 e identificar as maiores fontes de emissões. Neste contexto desenvolvemos a calculadora Data Center Lifecycle CO2e Calculator, que pode estimar a pegada de carbono emitida pelos Data Centers ao longo de todo o seu ciclo de vida.

As emissões de carbono variam significativamente em função de muitos fatores, como a dimensão do Data Center, o nível de redundância, o fator de emissão de eletricidade, a construção da infraestrutura, a configuração do equipamento de TI, a eficiência energética, o tempo de vida do equipamento (e a frequência de substituição), as atividades da cadeia de valor, etc. A nossa intenção é fornecer uma base e uma ferramenta pedagógica para promover o cálculo, os relatórios, a avaliação comparativa e a gestão do Alcance 3 no setor dos Data Centers.

A primeira tentativa global de quantificar o Alcance 3 dos Data Centers

O nosso modelo tem em conta um Data Center no local para isolar a quantificação da sua pegada de carbono, permitindo-nos ignorar os serviços de colocation e na Cloud. Outros pressupostos são: 1MW de capacidade de TI, Tier 3, 50% de carga; PUE de 1.34; 6 kW/rack, potência N+1 e refrigeração por água gelada; substituição de baterias VRLA  e renovação do equipamento de TI de 4 em 4 anos; e 511kg CO2e/MWh de fator de emissão médio de eletricidade dos EUA.

Principais conclusões do nosso estudo

Para identificar as maiores fontes de emissões, dividimos a pegada de carbono por Alcance, categoria de fonte de GEE, fase do ciclo de vida e subsistema do Data Center. Assim, descobrimos que:

  • Com base na intensidade de carbono da eletricidade adquirida, as emissões de Alcance 3 podem ser as que mais contribuem para a pegada de carbono total.
  • Os bens de capital são o maior gerador de carbono incorporado.
  • A composição do Alcance 1, 2 e 3 varia ao longo da vida útil de um Data Center. As emissões de Alcance 1 representam uma pequena percentagem (0.2-0.5%) da pegada de carbono total, enquanto as emissões de Alcance 2 representam entre 31% e 61%. As emissões de Alcance 3 representam 38-69% da pegada de carbono total. No entanto, à medida que o Data Center utiliza mais energia renovável, a percentagem de emissões de Alcance 2 diminui.
  • A pegada de carbono acumulada total de um Data Center aumenta de ano para ano devido à combustão contínua de combustível (gasóleo), ao consumo de energia e às atividades da cadeia de valor.
  • A estrutura do edifício do Data Center representam apenas 6.6% do total de emissões de Alcance 3 antes de a eletricidade ser ativada (ou seja, ao iniciar o ano 1 – apenas carbono incorporado).

Sete ações para reduzir as emissões de carbono de Alcance 3

Com a Data Center Lifecycle CO2e Calculator, os operadores de Data Centers podem tomar decisões mais informadas sobre a localização, as opções de design, a construção, o funcionamento e a manutenção, de forma a minimizar as emissões de Alcance 3. Com base nas nossas conclusões, recomendamos as seguintes sete ações para reduzir este tipo de emissões:

1. Utilizar mais energia renovável/limpa

Esta é uma alavanca importante para reduzir as emissões de Alcance 3 da Categoria 3 de GEE, ou seja, atividades relacionadas com combustíveis e energia. Existem organizações que ajudam os Data Centers a aumentar o seu mix de energias renováveis, como a Neo Network.

2. Prolongar a vida útil dos servidores

A nossa investigação mostra que, ao prolongar a vida útil dos servidores por mais um ano, podemos reduzir o carbono incorporado acumulado do Data Center em cerca de 16%. No entanto, devemos lembrar-nos de que a substituição de servidores deve ser ponderada tendo em conta as melhorias de desempenho e eficiência energética do equipamento de TI mais recente para minimizar a soma do carbono incorporado e das emissões de carbono relacionadas com a energia.

3. Comprar produtos eficientes e com baixo teor de carbono

Os produtos devem ter um baixo teor de carbono incorporado, serem energeticamente eficientes e ter características que promovam a economia circular, como a durabilidade e a reciclabilidade. A especificação de produtos com base no carbono incorporado é fundamental para minimizar a pegada de carbono de um Data Center.

4. Reutilizar edifícios existentes para Data Centers em vez de construir novos

Esta é uma forma eficaz de os operadores de Data Centers minimizarem o seu impacto ambiental. Um estudo da Serverfarm mostra que “a modernização dos Data Centers, que reutiliza os edifícios existentes enquanto expande a capacidade, pode proporcionar 88% de poupança de carbono incorporado em comparação com o custo do carbono material de novos projetos”.

5. Avaliar métodos de construção modulares e pré-fabricados

Embora não tenhamos efetuado uma análise ambiental quantificada entre as soluções modulares pré-fabricadas e a construção 100% no local, estamos otimistas quanto ao facto de a implementação de soluções pré-fabricadas ter um carbono incorporado mais baixo.

6. Design e operação para a utilização intensiva de TI das instalações

Quanto mais puder carregar um Data Center existente, mais poderá adiar a sua expansão, reduzindo as emissões globais de Alcance 3. Isto inclui a monitorização e a melhoria da utilização dos servidores, o design pensado para uma maior utilização das instalações e mais densidade de bastidores, e a redução da capacidade não utilizada.

7. Otimizar a procura de TI

O Data Center com menos emissões de carbono é aquele que não precisa de ser construído. Por outras palavras, a otimização da procura de TI para evitar a construção excessiva desempenha um papel importante na redução da pegada de carbono dos Data Centers.

Os operadores de Data Centers dão cada vez mais prioridade à redução das emissões de carbono de Alcance 3, pelo que recomendamos que integrem a sustentabilidade nos seus critérios de avaliação quando selecionam fornecedores de equipamento e prestadores de serviços para minimizar a pegada de carbono da cadeia de valor de Alcance 3. Os fornecedores de equipamento para Data Centers devem disponibilizar, de forma livre e facilmente compreensível, os documentos de divulgação de produtos ambientais (EPD) de Tipo III para os seus produtos. Leia mais sobre o nosso estudo no White Paper #99, “Quantifying Data Center Alcance 3 GHG Emissions to Prioritize Reduction Efforts”.

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