Certa vez perguntei para Tania Cosentino, presidente para a América do Sul da Schneider Electric, porque temos movimentos como o Gender Balance, que é parte das iniciativas de Sustentabilidade da Schneider Electric ou movimentos globais como o “He for She” (homens em prol do empoderamento das mulheres): “é porque as mulheres não estão preparadas para assumir posições de liderança ou precisamos incentivar que os homens dêem mais oportunidades para as mulheres?”.
Prontamente nossa presidente respondeu “nenhuma das alternativas, as mulheres acabam desistindo por inúmeras barreiras que encontram pelo caminho, barreiras invisíveis que precisam ser derrubadas uma a uma. Uma delas é o mito que se cria ao redor da maternidade, onde a mulher teme que, ao fazer esta opção torna sua empregabilidade menos atrativa, Por isso criamos Foruns de Discussão e movimentos como o HeForShe, para que posamos discutir, homens e mulheres, de forma aberta, quais são as verdadeiras razões que impedem o crescimento da carreira da mulher e como cada um pode contribuir para transformar essa realidade”.
Quando ela disse isso eu pensei: como poderia uma mulher desistir dos seus sonhos por conta dos filhos? Afinal eu sou mãe de dois filhos lindos (e ela me lembrou disso na ocasião) e tenho um marido que me dá todo apoio! Pois é… É possível!
De acordo com um estudo da Harvard Business School escrito por Robin Ely, Colleen Ammerman e Pamela Stone as mulheres não estão atingindo a meta de suas carreiras estabelecida aos 20 anos. Mas não porque elas estão deixando a força de trabalho quando têm filhos, mas porque elas estão permitindo que a carreira de seus parceiros tenha prioridade maior do que a sua.
Certa vez li um artigo com o depoimento da CEO da Xerox, Ursula Burns, que dizia: “não são seus filhos que não permitem que sua carreira decole, é o seu marido”. Isso porque se você não tem um parceiro que a suporte no dia a dia para que você invista na sua carreira, você simplesmente é capaz de desistir pois precisa cuidar integralmente dos filhos. Mas esse não era o meu caso, meu marido me dava todo o apoio, cuidava das crianças quando eu viajava, estava com elas nos eventos sociais (sem babá, sogra ou mãe) e fazia isso com primor para que eles não sentissem falta durante a minha ausência. E esse ponto é muito importante pois muitas vezes nós mesmas mães não permitimos que nossos maridos sejam pais… E digo para todas as mães que estejam lendo esse texto que a melhor coisa que uma mãe faz é ficar uns dias fora para que o marido cuide das crianças, assuma a paternidade, crie um laço com os filhos completamente diferente, isso é essencial para eles (que muitas vezes nós mesmo não deixamos).
Bom, o fato é que mesmo com esse cenário totalmente favorável para uma carreira de sucesso eu me vi diante de uma situação que, por incrível que pareça, cheguei a pensar em desistir. Descobri como e porque é possível a mulher desistir da carreira executiva por sua família.
Em Abril de 2016 tive uma oportunidade que sonhei por muitos anos, mas que mudaria a minha vida para sempre: uma posição de diretoria… mas para isso teria que deixar o Brasil e me mudar para a Europa com meu marido e meus dois filhos (Ana Beatriz com quase quatro na ocasião e Paulo Enrico que estava para completar um ano). Noites sem dormir, conversas em família, dicas de brasileiros que foram morar fora do país (homens que não enfrentaram o problema de dividir a maternidade e o trabalho), enfim, pensei muito se era isso o que eu queria, se estávamos (eu e meu marido) dispostos a abrir mão de nossa zona de conforto e mudar para um lugar com outra língua, outra cultura, outro estilo de vida. Pensamos muito nos nossos filhos pois, por mais benefícios que eles teriam de serem alfabetizados em outra língua e educados em uma outra cultura, seria justo com eles os privarmos da convivência com a família?
Finalmente me vi pensando se era justo escolher minha carreira, poder, fama e dinheiro ao invés da minha família… Se esta era realmente a melhor decisão a tomar… Me coloquei naquele lugar que eu pensei que jamais estaria… E isso automaticamente me fez pensar na frase da minha presidente “as mulheres desistem do seu sonho por acreditar que tem que fazer uma escollha pelo trabalho ou pela família” não seria melhor pensar no “equilíbrio entre trabalho e família”.
Mas, eu não queria desistir, me sentia capaz de ser uma pessoa multiplicadora, de ensinar tudo o que eu sei, de poder transformar pessoas e profissionais, de liderar com convicção e não por posição. Mas eu precisava de um propósito, de encontrar o motivo de tanto sacrifício… Afinal empresas que mantém a economia e geram empregos precisam de líderes fortes… Principalmente mulheres… E por que?
O estudo de Harvard de 2012 que avalia o modelo de competências para o desenvolvimento da liderança, criado por Zenger Folkman, mostra que a mulher possui mais qualidades que se enquadram na personalidade do líder. O modelo de competências de Zenger Folkman revela que a mulher demonstrou ser melhor do que o homem em demonstração de empatia e habilidade de influenciar, bem como em gerenciamento de conflitos. As mulheres estão ainda muito mais à frente em termos de self-awareness and self-development. As mulheres estão entre as líderes mais talentosas e respeitadas dentro das organizações. Além disso, mulheres no segundo ou terceiro nível de liderança, especialmente abaixo do CEO, são mais impressionantes do que seus pares homens.
Bom, com tudo isso posto, o fato é que nós mulheres nos esquecemos de nossa importância no mercado de trabalho e de ocupar cargos de liderança. Nos esquecemos que o futuro de muitas empresas que geram empregos e renda pode sim estar em nossas mãos. Esse se tornou o meu propósito, meu objetivo de vida… Ser um exemplo, mostrar para as mulheres de que é possível sim ter uma carreira, conciliar vida pessoal e profissional, ser mãe, esposa e líder, sem nunca deixar de ser mulher… Por mais difícil que isso seja, por mais que às vezes tenhamos que deixar nossa vida pessoal de lado em nome dos filhos ou dos nossos parceiros… Todo nosso sacrifício não é em vão. Somos agentes de mudança e capazes de transformar o mundo e as organizações em ambientes melhores para nós e para os nossos filhos.
“The world is a better place when women have the power to lead.” Autor Desconhecido
Por Ana Carolina Cardoso Guilhen
Diretora de marketing estratégico para Ibéria e Itália
Conversa
Ana Darque
8 anos ago
Parabéns vc é uma grade mulher e mãe, boa sorte tudo de bom pra vcs. Bjs ana
Marina
8 anos ago
Interessante.
Laura
8 anos ago
Interessante.
Antonio Sobrau
8 anos ago
Eu gostei demais das dicas. Como faço para baixar o ebook completo?