O mundo precisa de se descarbonizar, e depressa. As emissões globais de CO2 têm de ser reduzidas para metade até 2030 para garantir que as alterações climáticas não ultrapassam os 1.5 graus até ao final do século. Os compromissos neste sentido assumidos até este momento englobam apenas cerca de um terço da descarbonização necessária nesta década, o que significa que temos de avançar três vezes mais depressa. A curto prazo, isto exige a adoção acelerada de tecnologias que até já existem, juntamente com escalar novas soluções que estão a chegar ao mercado, como é o caso do hidrogénio verde.
De facto, o hidrogénio verde apresenta-se como um elemento-chave na transição energética, especialmente em Portugal, que tem tentado dar passos para se posicionar como líder neste setor em crescimento. Em 2023, por exemplo, o Governo expressou a convicção de que, até 2026, o país se tornaria um exportador relevante de energia limpa, reforçando a sua posição no mercado internacional de hidrogénio verde.
Na economia net-zero do futuro, a eletricidade tornar-se-á a energia dominante, com uma quota de cerca de 70%, complementada pelo hidrogénio verde. Não há dúvida de que a eletricidade continua a ser a energia mais eficiente e o melhor vetor de descarbonização (desde que seja de origem renovável). É também uma tecnologia que já está amplamente disponível e pode ser utilizada para descarbonizar a maioria das aplicações. Quando combinada com a tecnologia digital – aquilo a que chamamos de Eletricidade 4.0 –, representa o caminho mais rápido para o net-zero. Contudo, é improvável que a eletrificação possa ser aplicada a todos os setores de atividade – a maioria dos cenários prevê uma quota de eletricidade entre 50-70% da energia final até 2050. Assim, de forma mais específica, o hidrogénio verde desempenha um papel complementar na descarbonização dos setores mais difíceis,que utilizam atualmente gás natural ou combustíveis derivados, como a indústria química, do aço, da aviação, dos transportes marítimos e dos transportes terrestres de longa distância. É aqui que vemos a maior parte do desenvolvimento do hidrogénio verde.

O papel de Portugal
Portugal tem assumido uma posição de destaque na adoção do hidrogénio verde, tirando partido dos seus abundantes recursos solares e eólicos para produzir eletricidade renovável a preços competitivos. Esta eletricidade é fundamental para a produção de hidrogénio verde através do eletrólise.
Já em 2020, Portugal aprovou a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), estabelecendo metas ambiciosas para integrar o hidrogénio verde no seu mix energético. Com investimentos previstos entre sete e nove mil milhões de euros, esta estratégia tem como objetivo reduzir a dependência de gás natural, economizando entre 380 e 740 milhões de euros, e gerar até 12.000 novos empregos. Através do Fundo Ambiental, já foram alocados 102 milhões de euros do PRR a 21 projetos de hidrogénio verde e a quatro de biometano. Adicionalmente, o Plano Nacional de Energia e Clima 2030 foi atualizado para reforçar a transição energética, com a meta de produzir 80% da energia a partir de fontes renováveis até 2026, colocando Portugal mais próximo da neutralidade climática em 2045.
Olhando para o Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC), o governo prevê uma capacidade instalada de eletrolisadores de 5.5 GW até 2030, um aumento significativo face aos objetivos anteriores, para potenciar a utilização do hidrogénio verde em larga escala e encontrar soluções para o seu transporte e armazenamento, que são atualmente dois dos principais problemas encontrados na adoção deste combustível. Este compromisso alinha-se com os esforços europeus para a descarbonização e posiciona Portugal como um potencial líder na produção de hidrogénio verde.
Para além disso, Portugal tem investido em projetos estratégicos, como o MadoquaPower2X, que prevê a instalação de 500 MW de capacidade de produção de hidrogénio verde e 500 mil toneladas de amónia verde por ano em Sines.
Assim, a localização estratégica e a capacidade de produção sustentável de hidrogénio verde tornam Portugal um potencial exportador desta energia, com benefícios tanto para a economia como para as relações internacionais. Com recursos naturais abundantes, investimentos em inovação e parcerias globais, Portugal consolida-se como líder na promoção do hidrogénio verde, desempenhando um papel crucial na transição energética e no desenvolvimento sustentável.
Um objetivo comum na Península Ibérica
Este compromisso está em consonância com os esforços europeus no mesmo domínio: a União Europeia estabeleceu o objetivo de produzir 10 milhões de toneladas de hidrogénio renovável e importar outros 10 milhões de toneladas até 2030. No entanto, para atingir estes objetivos será necessário ultrapassar obstáculos relacionados com as infraestruturas, os preços e a tecnologia.
Para além disso, o recente acordo entre Espanha, Portugal e França para a construção do H2Med, um gasoduto de hidrogénio que liga a Península Ibérica ao resto da Europa, reforça o papel da Península Ibérica como centro estratégico para o hidrogénio na Europa. Este projeto permitirá que o hidrogénio verde produzido em Espanha e Portugal seja exportado para países como a França e a Alemanha, onde a procura por fontes de energia limpas é elevada devido à transição para a neutralidade carbónica.
Os desafios do hidrogénio verde em Portugal
Apesar dos progressos, o desenvolvimento do hidrogénio verde em Portugal enfrenta diversos desafios, tanto para o setor público como para o privado – sendo um dos maiores o transporte e armazenamento do hidrogénio verde, levando-o das zonas de produção para os grandes centros industriais onde se vai, decerto, concentrar a procura. Depois, para além da infraestrutura, o preço é outro fator crítico.
Podemos resumir os atuais desafios do hidrogénio verde em Portugal nos seguintes pontos:
- Infraestrutura de transporte e distribuição: Para tirar o máximo partido do hidrogénio verde, é essencial contar com uma infraestrutura nacional que permita transportar o hidrogénio desde os locais de produção até aos centros industriais e de consumo. O transporte torna-se num desafio uma vez que o hidrogénio é muito leve, volumoso, e altamente inflamável. A nível europeu, como já referimos, o projeto H2Med em curso visa ligar as redes de hidrogénio da Península Ibérica ao resto da Europa através de um hidroduto, para que, a partir de 2030, seja disponibilizado hidrogénio verde a um custo acessível ao centro e norte da Europa. O H2Med posicionaria a Península Ibérica como um importante nó de produção e exportação deste combustível. Lançado por Portugal, Espanha e França e com um grande apoio da Alemanha, foi classificado pela Comissão Europeia como um IPCEI – ou seja, um Projeto de Interesse Europeu Comum, o que confirma a sua importância. No entanto, esta infraestrutura está ainda na sua fase inicial e requer investimentos massivos e coordenação transnacional para atingir o seu pleno potencial. É igualmente necessário desenvolver uma infraestrutura interna para facilitar o transporte em Portugal.
- Custo de produção: A produção do hidrogénio verde continua a ser mais cara do que a do hidrogénio cinzento – de facto, custa cerca de duas a três vezes mais. A redução deste preço vai depender dos avanços na tecnologia dos eletrolisadores, bem como da disponibilidade de eletricidade renovável a preços competitivos. A otimização da produção e armazenamento vai ser fundamental para que o hidrogénio verde se torne uma opção viável e sustentável.
- Dependência de energias renováveis: A produção de hidrogénio verde depende de um fornecimento constante de eletricidade renovável. No entanto, a intermitência de outras fontes como a energia solar e eólica pode limitar a capacidade de produção. Para resolver este problema, é crucial desenvolver tecnologias de armazenamento de energia e estratégias de gestão da procura que permitam uma produção mais estável.

A visão da Schneider Electric da transição para o hidrogénio verde
Na Schneider Electric, acreditamos que a combinação de hidrogénio verde e eletricidade renovável vai ser fundamental para alcançar os objetivos globais de descarbonização. Com o seu foco em soluções como a Eletricidade 4.0 e o desenvolvimento de sistemas de energia digital, estamos bem posicionados para apoiar a adoção do hidrogénio verde. Estas tecnologias tornam possível não apenas otimizar o consumo de energia, mas também integrar de forma eficiente e sustentável os sistemas de hidrogénio verde na infraestrutura energética existente.
Através de soluções avançadas de gestão de energia e automação, trabalhamos para permitir que as empresas monitorizem e otimizem a utilização do hidrogénio verde, minimizando os custos e maximizando a eficiência. Também promovemos a colaboração com players da indústria para desenvolver novas infraestruturas e tecnologias que tornem o hidrogénio verde uma opção viável e acessível em todo o país.
O hidrogénio verde representa uma oportunidade imperdível para Portugal se posicionar como líder na transição energética europeia. No entanto, para explorar plenamente este potencial, é necessário ultrapassar obstáculos significativos em termos de infraestruturas, custos e regulamentação. Com o apoio de parcerias público-privadas e de empresas como a Schneider Electric, Portugal tem a oportunidade de transformar o seu mix energético e avançar para um futuro mais limpo e sustentável, alinhado com os objetivos de descarbonização da União Europeia.
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