Rumo a um futuro sustentável: Transformar a utilização de energia em três setores-chave

Este artigo foi originalmente publicado no blogue global da Schneider Electric por Olivier Blum

A procura atual de energia continua a aumentar rapidamente, como resultado do aumento da população mundial, do crescimento económico e das alterações climáticas. Ao mesmo tempo, 60% da produção global de energia atualmente perde-se ou é desperdiçada antes mesmo de chegar aos consumidores. Para satisfazer a procura crescente, é essencial otimizar a utilização da energia.

Este lado da ‘procura’ da equação energética é um componente crítico – e muitas vezes negligenciado – da forma como podemos enfrentar as crises climática e energética, compreendendo mais de metade (55%) do potencial de descarbonização da energia entre agora e 2050.

Tendo em conta que a energia é responsável por mais de 80% das emissões globais de carbono, a principal solução para combater as alterações climáticas é aquilo a que chamamos Eletricidade 4.0 – a combinação de eletrificação e digitalização. Isto ajuda-nos a fazer a transição para energias mais limpas e a otimizar melhor a utilização da energia, dando prioridade aos três setores responsáveis pela quase totalidade (94%) das emissões relacionadas com a energia: edifícios, indústria e transportes.

1. Modernize os seus edifícios para que sejam totalmente digitais e totalmente elétricos

De acordo com o World Green Building Council, os edifícios são responsáveis por quase 40% de todas as emissões de carbono relacionadas com a energia a nível mundial. Quase três quartos destas emissões provêm da energia que aquece, arrefece e alimenta os edifícios… e isto é, obviamente, agravado pelas alterações climáticas. A digitalização e a eletrificação são formas poderosas de alterar esta situação.

A modernização dos edifícios existentes é uma grande parte da história. Pensemos nisto: 50% dos edifícios que vão existir em 2050 já existem atualmente.

A instalação de soluções de baixo consumo de energia para melhorar a eficiência energética e a sustentabilidade é um começo. Estas podem incluir iluminação energeticamente eficiente ou um isolamento de alta qualidade, por exemplo; mas o verdadeiro impacto vem da capacidade de tomar decisões em tempo real para otimizar o controlo da temperatura e a eficiência. Isto pode ser feito utilizando ferramentas digitais de gestão de energia, como sensores que não apenas monitorizam a temperatura, como também a humidade e os níveis de luz, bem como software que mede, analisa e visualiza o consumo de energia.

É imperativo otimizar também a utilização de energia de quaisquer edifícios novos – desde o seu projeto e construção até à gestão do ciclo de vida a longo prazo.

Aqui falamos de todos os fatores, desde materiais de construção a ferramentas digitais que analisam o desempenho energético, estações de carregamento inteligentes que reduzem o consumo de energia e serviços analíticos que melhoram a fiabilidade da energia.  Cada vez mais, as organizações optam também por instalar microgrids para produzir a sua própria energia renovável ou recuperável, como painéis solares ou turbinas eólicas, para que possam reduzir a pegada de carbono e também aumentar a resiliência contra a escassez de energia externa e os aumentos de preços.

2. Explorar as perspetivas de descarbonização nos setores com utilização intensiva de energia

A indústria é responsável por um quarto de todas as emissões globais, de acordo com a AIE – por isso, temos de fazer desta uma “década elétrica” para o setor, durante a qual as instalações e a totalidade das cadeias de abastecimento podem conseguir uma descarbonização acelerada.

Em comparação com os processos atuais, a eletrificação no local oferece operações mais limpas e mais inteligentes. Um roadmap cuidadoso permite que as indústrias com emissões difíceis de abater façam a transição de combustíveis fósseis para processos alimentados a eletricidade, reduzindo as emissões diretas e facultando o impacto da descarbonização de forma imediata, ao mesmo tempo que salvaguam a integridade operacional.

A eletrificação oferece uma oportunidade de digitalização. Os controlos avançados que permitem a tomada de decisões com base em dados, combinados com infraestruturas eletrificadas integradas com sistemas de software de gestão de energia digital, capacitam as organizações para tomar medidas para reduzir as emissões de carbono de Alcance 1 e 2. Para as emissões de Alcance 3, será necessária uma avaliação de diagnóstico, tendo como alvo as fontes com as maiores emissões.

Normalmente responsáveis por mais de 80% da pegada de carbono de uma empresa, as emissões de Alcance 3 devem ser uma prioridade máxima. Para tal, é necessário trabalhar com parceiros em toda a cadeia de abastecimento, desde o aprovisionamento de matérias-primas à produção, logística, armazenamento e muito mais. As empresas devem identificar onde podem utilizar materiais sustentáveis, reduzir a utilização de fontes de combustível intensivas em carbono e adotar energias renováveis. Se tal não for possível, pode vir a ser necessário encontrar parceiros alternativos para garantir níveis suficientes de descarbonização. Procure parceiros de confiança que o possam ajudar nesta jornada.

3. Descarbonizar o setor dos transportes através da mudança de infraestruturas

À medida que a população mundial continua a crescer, que as economias se desenvolvem e a urbanização continua a acelerar, é fundamental eletrificar as infraestruturas de transportes sempre que possível. Quer se trate de aeroportos, caminhos-de-ferro ou portos marítimos, a digitalização pode melhorar a eficiência operacional e a resiliência, bem como reduzir o tempo de inatividade. Para além disso, à medida que a adoção em massa de veículos elétricos (VE), pessoais e públicos, continua a crescer, precisamos de expandir massivamente a sua infraestrutura de carregamento em todo o mundo, facilitando simultaneamente a descarbonização de outras formas de transporte, como o transporte marítimo, a aviação e o transporte de mercadorias. Onde seja possível, a eletrificação vai habilitar mais capacidades digitais, aumentando a eficiência e a capacidade de adaptação às necessidades dos clientes em tempo real.

Já estamos a ver carregadores elétricos (idealmente alimentados a energia solar) nos parques de estacionamento para incentivar os colaboradores, parceiros e visitantes das empresas a mudarem para VE, mas precisamos de acelerar a disseminação da sua presença.

As microgrids também podem desempenhar um papel importante, compensando parte da pressão que a procura adicional de eletricidade por parte dos veículos elétricos exercerá sobre as redes. Podem também proporcionar autonomia energética a áreas remotas, ou a locais onde as redes são vulneráveis a perturbações causadas por catástrofes naturais ou condições climatéricas extremas. Para além disso, se uma organização produzir mais energia do que necessita, pode armazenar e vender o excesso de volta à rede principal, quando os preços estiverem no seu ponto mais alto, trazendo potencial de lucros.

No entanto, o aumento da procura de energia significa que as nossas redes estão mais sobrecarregadas do que nunca. Para melhor apoiar a descarbonização do setor dos transportes, temos de adotar já as redes do futuro, que vão permitir a integração de mais energias renováveis e recursos energéticos distribuídos (RED) para eletrificar os transportes da forma correta. Equipadas digitalmente, geridas à distância e alimentadas por dados e modelos de rede integrados, as redes do futuro são mais fiáveis, sustentáveis e seguras.

As tecnologias necessárias já existem: vamos utilizá-las!

Um mundo em que todos conduzem um carro elétrico ultra eficiente e vivem num edifício eficiente e inteligente pode parecer algo num futuro distante. No entanto, as ferramentas que nos permitem consegui-lo já estão disponíveis. Se começarmos a utilizá-las a maiores escala e velocidade, poderemos enfrentar melhor com o clima global e otimizar a utilização de energia de uma forma real e tangível – desde já.

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